sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Mágoa

Mágoa de casa antiga
de olhos esburacados
cancela partida
e jardim bravio

Mágoa de casa abandonada
em que as vozes se calaram,
e à volta, no jardim,
as águas secaram.

Mágoa das rosas amarelas
arrancadas das jarras
brancas de porcelana

Mágoa de espigueiro
desconjuntado
de ripas soltas
e sem trigo nem milho
verde ou amarelecido

Mágoa duma voz
de agravo e desencanto
que num canto triste
por mim chama

Mágoa do vidro embaciado
em que o poema não ressurge
como era seu costume

Mágoa de sopro frio
que percorre
um estreito corredor
vindo aninhar-se
num nicho vazio


(Manuela Reis)

1 comentário:

  1. Manuela, tenho partilhado na minha página do Facebook os teus poemas, porque tu és uma das grandes poetas portuguesas e, como tal, a tua obra merece ser divulgada. Um grande abraço da Maria Alzira

    ResponderEliminar