terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O poema

O poema começa
pela cancela do quintal
onde as abelhas fazem o mel.
Depois,seguem-se as árvores
cujo nome não sei.
Quando o pássaro voa,
a seguir vem o silêncio
que povoa o ribeiro.


(Manuela Reis)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ladeira

Subimos a ladeira
de mãos dadas,
menino de cabelos ruivos.
Pedra, nuvem, chama.
Quando chegámos lá acima,
compreendi que foste tu
a ensinar-me o caminho.
.......................

Caminho. Menino.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O meu poema nasceu
nas terras altas.
Desceu
pelas escarpas
e quando chegou cá abaixo,
ao vale,
encontrou um mar de rosas.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Fecho os meus olhos
e tateio o teu rosto
para descobrir se o sei de cor
..........................................

Imagino o ponto de partida
para encontrar o da chegada.
.........................................
É como se procurasse
um pergaminho sagrado,
antigo e amarelado.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quem sabe

Talvez ainda não tivesses
vindo e talvez nem eu existisse.
Não admira.
Olhando o horizonte,
só se via uma casa
com as portas esburacadas
e as janelas sem vidros.


(Manuela Reis)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Se

Se eu pudesse
transformar em grinalda
as rosas amarelas,
pô-las ia nos teus cabelos fulvos,
porque para ti são deslavadas
as brancas e as rosadas.
Seria um esplendor
único, o reflexo
duma luz incontornável.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Podes chamar-me

Podes chamar-me pombo,nuvem
ou candeia.
Podes chamar-me estrela da manhã
ou mesmo, quem sabe,
charrua da terra.
Sol de inverno ou raiz de primavera.

(Manuela Reis)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

São coisas assim 

São coisas assim,
leves e frescas,
desejando a alvorada
com que acordo.
Às vezes venho dum sonho estranho
que me faz despertar
e saltar ligeiro
sobre o cobertor de papa,
que outrora tingiam
de azul ou rosa forte.


(Manuela Reis)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

As Folhas

Mordidas pela chuva,
debaixo da minha janela,
as folhas das árvores
deixam-se levar
por um tremor antigo.
Nada se passsa agora,eu sei,
mas noutro lugar muito longe,
outrora.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Como uma cobra azul

Como uma cobra azul
escorre pela montanha
o corpo da neve.
............................
É noite, e é
assim que a vêem
os meus olhos.
.........................
Tão antiga
e carregando
um mistério
insondável.
.......................
Sem palavras para o dizer.

(Manuela Reis)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Chove

Chove há três,quatro ou cinco dias, não sei.
Mas no reflexo do medalhão oval
que minha Avó me deixou,
sente-se o reflexo do sol
de todas as férias
que com ela passei.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Caminho vidrado

No caminho vidrado
da manhã gelada,
eu senti um arrepio,
mas quis ser ave.

Ave branca ganhando altura,
para ver de longe a serra,
e, pelo caminho, a igreja e o casario.

E à minha frente, nesse mesmo caminho
vidrado, eu vi, tenho a certeza,
um alegre passarinho saltitando.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Hoje

O que aconteceu
foi noutras eras.
Ouvi cantar um pássaro
e pela janela aberta,
entrou o mar azul
que me levou
para outra costa.

(Manuela Reis)