terça-feira, 24 de abril de 2012

Há milhares de anos


Chove há milhares de anos
em todos os caminhos
e eu fujo,
em segredo,
para o fundo das casas
onde o lume está aceso.
Aconchego os velhos e as crianças
e cubro-os com uma manta
feita de lã merina,
de quadrados castanhos.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Olhar

Olhar longínquo e transparente
como o apontar do pôr do sol
que às vezes surge como agonia.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Caracóis

Caracóis louros, voando
sobre o rosto de ébano.
Olhar vivo e meigo
caindo sobre o mundo.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Dia

Dia acabado de nascer
pela luz das frinchas
das portadas e pela brancura
da toalha de linho,
sobre a cómoda.
Esguio, ergue-se um solitário
com uma rosa vermelha
e, ao centro, um jarro
e uma bacia de porcelana
antiga de laivos dourados.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Traçados

Fio de linho
ou de cabelo.
Linha a marcar
o caminho
do rio profundo.
Rego traçado
no campo de trigo,
lá longe no fundo.


(Manuela Reis)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Poema encontrado

Um poema encontrado
entre as páginas
dum livro antigo
conduz-nos pelas veredas,
e vem revelar o segredo
dos meandros percorridos.
As épocas passadas.

(Manuela Reis)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Melancolia

Melancolia que cais
como aroma
de perfume inesperado
e de estranha bruma,
liberta-me da tristeza
que me tens atada
e dá-me outra dimensão.
Uma alegria ilimitada.


(Manuela Reis)



terça-feira, 3 de abril de 2012

Rosa amarela


Do mais profundo
de ti mesmo,
nasceu
uma rosa amarela.
Rosa orvalhada
de pétalas
a tremer,
largando um perfume
ao mesmo tempo
vago e intenso.

Olha-la, e embora num
gesto simples e transparente,
fazes dela uma oferenda.

É como se fosse um ritual.

(Manuela Reis)