As crianças não estão presas à terra. De maneira nenhuma. Trepam com os olhos pelo mundo acima. Exprimem o mesmo espanto das ovelhinhas no presépio, que lhes vêm comer migalhas à mão, saltam com os gatos, beijam os cães. Os adultos querem ensinar-lhes coisas mas se fossem eles a querer aprender é atrás delas que teriam de correr.
(Manuela Reis)
quinta-feira, 22 de março de 2012
Mãos abertas a tudo, olhar decidido e atento a todos os que a cercam. Raízes na terra amada mas gestos espalhados pela cidade fora. Por fim, uma grinalda de rosas...
(Manuela Reis)
quarta-feira, 21 de março de 2012
O Poema
é o outro
corpo
de todas
as perdas.
Manuela Reis)
Partiste
Partiste logo
no início do poema
e eu fiquei só,
jogando à toa
com as palavras
que com tanto carinho
preparei para ti.
Não ficou nada.
Apenas algo de vago,
dentro de mim.
(Manuela Reis)
segunda-feira, 19 de março de 2012
A tua alma cresceu ao longo do tempo. O teu olhar que parecia tão longínquo, aproximou-se de cada um e afagou cada rosto isolado,triste, sem ternura. Puseste tudo nas tuas mãos e aprendeste a dar o que tinhas e não tinhas. A toda a gente. Puseste tudo. Mesmo tudo.
sexta-feira, 16 de março de 2012
O brinquedo
O brinquedo da minha infância veio do mar. Chegou à praia e saltou a duna e a parede de pedra. Depois mão misteriosa deu-lhe de novo corda.
(Manuela Reis)
quinta-feira, 15 de março de 2012
Uma herança
É uma herança
o carvalho a norte
e o caramanchão
onde tomávamos o chá.
.................................
E pequenas coisas
como a aldraba
da porta grande.
......................................
Foi então que me veio à memória
a ausência do pássaro azul
que tanto queria num poema meu,
mas nunca, nunca apareceu.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Uma palavra
Dá-me uma palavra, uma palavra apenas com que eu chame tudo o que me rodeia. Terras,árvores,mar. ........................... E nas grandes cidades, até as construções e os arames farpados.
(Manuela Reis)
quarta-feira, 7 de março de 2012
Já é noite
Já é noite, mesmo noite.
E ao fechar os olhos,
sonhos insondáveis
tomam conta de mim
e lançam-me
por meandros desconhecidos.
Ao despertar,
são rosas frescas alilasadas
que me esperam,
em cima da cómoda.
Manuela Reis)
sexta-feira, 2 de março de 2012
Dos meus dedos
Dos meus dedos correm rios de água. São verdes, amarelos, e avermelhados, mas os de cor de açafrão é que me ensinaram a dar alegria à minha canção.
(Manuela Reis)
quinta-feira, 1 de março de 2012
Harmonia
O teu olhar atravessou o silêncio do quarto e foi sentar-se no banco de pedra, junto à janela. A luz que tocava na vidraça aquecia-te as mãos e fazia-te sentir calor no teu ombro.