sexta-feira, 29 de junho de 2012

Serra

De lanço
em lanço,
até à calçada,
encontro
as folhas da hera,
e do outro lado
da serra,
as pegadas
fundas
marcadas na neve.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Herança

A minha alma é habitada
pelas águas,
através da caleira
que derrama o cheiro
a alecrim e rosmaninho.
É aos meus netos
que deixo
a beleza da pedra
e a imagem da
madeira envelhecida
do vetusto espigueiro,
não longe dali e com
vestígios de vermelho
velho... 

(Manuela Reis)

terça-feira, 26 de junho de 2012

A tua Casa


Aproximas-te
da casa
caiada
e com a luz da cal
inventas a porta
que te
falta
Há um silêncio
repentino
quando entras
Vais direita
à janela
que sabes de cor

Todos os recantos
que conheces
ficam então iluminados.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ansiedade 

Minha alma
sussurra ao longe
como o som
da areia
escoando-se
pela peneira
do sol poente...


(Manuela Reis)

quinta-feira, 21 de junho de 2012


Silêncio

O silêncio é o prelúdio da neve.

O silêncio é o sinal das estações e o princípio delas.

O silêncio marca o tempo das primeiras glicínias.

O silêncio é o momento de suspense que antecede a 7ª Sinfonia de Beethoven.

(Manuela Reis)

terça-feira, 19 de junho de 2012

Névoa

De que lado vem a névoa
que embacia o meu olhar,
e faz calar o canto de alegria
da criança que vem do mar?
.......................................
Menino de cabelo encaracolado,
olha ao longe comigo.
E eleva-o atravessando
a transparência das coisas que nos cerca,
deixando-nos ver e voar.

Névoa. Paisagem. Convite. Canto de alegria.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Abri a porta

Abri a porta
e o que então aconteceu
foi noutra época.
Palas frinchas das janelas
entraram as silvas
da casa abandonada
e nela apareceu um jardim
de frescas rosas amarelas.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Linha do poema

Ave anilada
lança no espaço branco
a linha do poema
e leva-o nas tuas asas
até ao fim do mundo.
As sílabas soltam-se
e vão juntar-se a elas
as vogais azuis e nacaradas.

(Manuela Reis)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Caminho

Sílaba a sílaba,
forma-se a palavra
que indica
o caminho
daqui
até ao rio.
Sorriso, erva.
Pedra e luz.
E por fim,
paisagem d’água

(Manuela Reis)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Sofrimento

Campos trilhados pelas chaves torcidas.
Campos cruzados pelos ferros enferrujados
e pelas peças antigas da charrua.
Campos marcados pelas pegadas
que deixam ficar laivos de sangue.

Devastação de terras e de temores.

(Manuela Reis)