domingo, 30 de dezembro de 2012

Ano Novo

Tocam ao longe, alegres, os sinos da aldeia,
a lembrar o tempo que se aproxima: o Ano Novo!

É o anúncio que traz aos corações um
sobressalto e os faz sentir nas moitas o canto
do rouxinol, sereno e misterioso, ouvido com
desvelo pelos caminhos fora, em direcção à
Casa Grande, de portas abertas para a Festa...

Conta a lenda que um dia, o Menino Deus
se juntou aos homens para dar Força e Coragem
na Caminhada, tão cheia de fadiga, às vezes!
Sílaba a sílaba, repetem-se as palavras mágicas:
Boa Nova. Boa Nova. Boa Nova! É o Ano Novo.
E ao lado, como bordão de apoio, o Menino
vestido de linho branco e um sorriso nos lábios...

É a Boa Nova, é o Ano Novo. É o Menino
fazendo o tear trabalhar e tecer o linho puro!...

(Manuela Reis)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


Natal de 2012


Na cidade não neva, há vento, chuva e frio
e é nos olhos das crianças carentes de tudo,
que leio o desaconchego, o desconforto
que as toca…
Pouso o Menino no Presépio
E, com carinho,
Falo-lhe em jeito de oração.

Para que os mais velhos
despertem e descubram o seu receio, o seu
temor. O sentido da Tua vinda, do Natal!
Por isso saio de casa, vou dar uma volta
na praceta e por cada menino que passa,
eu tenho um sorriso e na mão direita,
quase com timidez, estendo um pão: é o
sentimento profundo, íntimo, eterno do Natal!

(Manuela Reis)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Da praia donde
nunca consegui partir
vi um barco a acenar.
Pensei, pensei:
também nunca consegui chegar.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Como a água

Corro
como a água
na montanha
e só se sabe
que fui ferida
por um veio
de sangue

(Manuela Reis)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Em memória

Em memória
dos confins do tempo,
dos recônditos
campos
de flor azul,
bato
com força ancestral
o linho estriado
sobre a minha pedra do rio.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Relógio de capela

Nobre
de herança,
ponteando
as minhas horas,
tem uma beleza
ogival,
o meu relógio
de capela.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Lágrima

Imóvel,
no fundo
do tempo, como duma
vitrine,
uma lágrima
ficou sobre
veludo como
pérola fina.

(Manuela Reis)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

À frescura

À frescura duma fonte,
caíram bagas serenas
de uva branca e contas
arroxeadas que pousaram
no regaço que as esperava.
Aves dum azul leve vindas
de misteriosos horizontes,
desceram então num apelo
de alegria e encantamento.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pinceladas

A fatigada sombra contra o muro.
O murmurar da fonte cheia de luz
que revê auroras a seguir ao prado
e ao souto da minha infância.
Sem limites, sem fim e sem memória...

(Manuela Reis)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Pedra a pedra

Pedra a pedra
subi até
à porta da casa.
Uma pomba
levantou voo
e o mar azul
entrou com ela.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Uma gota

Uma gota
de água
caiu
no silêncio
e breve
nele
se esbateu.

(Manuela Reis)



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Madonna

Com
o seu
Menino
em fuga
de cabeça
inclinada
na Noite
entre roupagens
só diz
do seu temor
um fio
de sangue


(Manuela Reis)