domingo, 22 de julho de 2012

Neve e fogo


E pelo meu peito
caiu a primeira neve.
A primeira.
Cor de cal e como
fogo de fogueira
que abrasou, misteriosamente,
os meus cabelos castanhos.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 20 de julho de 2012


Sonho leve

Sono leve
das rosas
que caem devagar
sobre o muro
de pedra,
de granito cinzento,
sorrindo
em chispas prateadas.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 18 de julho de 2012


Quem passa

Quem passa perto,
pode chamar-me
aragem da manhã
ou sopro ameno
do entardecer.
...........................
Chuva caindo nos
ombros ou flocos
de neve tecendo
um manto sobre eles.
..............................
Entardecer adamascado
sob a forma dum sol
poente bem desenhado.

(Manuela Reis)


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Pássaro azul

Na alameda que se alonga
até ao palacete,
lá longe, muito longe,
senti um estranho sobressalto.
Foi então que um pássaro
azul levantou voo
e veio pousar no meu ombro.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Três coisas

Há três coisas que me dão vida:
o cheiro da terra molhada
e o do poroso do cântaro
quando está cheio de água.
Finalmente, um ramo
de junquilhos, na altura
de crescerem junto ao muro.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pássaro
 
O pássaro canta
como se fosse
a última vez.
Mas de repente,
a pausa,o silêncio,
são como uma porta
que se fecha devagarinho...
 
(Manuela Reis)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Palavras, sílabas, vogais

Quando deixo fluir
as palavras, as sílabas
e as vogais pelo espaço
fora, das várias cores
é o branco que evoco
numa soma delas.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Espectador

Deixa ferver o lume,
soprar o vento,
cair a chuva
e pousar os flocos
de neve sobre os ombros
que se vergam.
Deixa que abram
um caminho feito gelo,
até chegar ao lago
perplexo e solitário.
..............................
Tu és apenas um espectador,
mas muito, muito antigo.
Um espectador de há séculos.
Por isso não precisas de dizer nada.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ergue-te

Ergue-te,coração,
dentro de mim.
Recebe a luz
das madrugadas,
o calor da tarde
e o olhar adamascado
do misterioso entardecer.
Quando chega a noite,
ao fim do dia,
encosta a cabeça
ao travesseiro Branco
de puro e fresco linho.

Manuela Reis


(Ao meu neto Miguel, a 18 de Agosto de 2011)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ponte sobre o rio,
paliçada a balouçar
sobre as águas
transparentes
e leves como o vidro,
ditando segredos
para o barco escondido
na margem cheia
de frescura e cor.
Silêncio, silêncio.
Em tua honra o
faço rasgar cheio
de indizíveis cambiantes,
de par em par...


(Manuela Reis)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Quem me acorda na madrugada?
Um pássaro, o mar ao longe?
O crepitar da chaleira ao lume?
Possivelmente, o bater do meu coração
sempre, sempre à tua espera.


(Manuela Reis)