domingo, 30 de dezembro de 2012

Ano Novo

Tocam ao longe, alegres, os sinos da aldeia,
a lembrar o tempo que se aproxima: o Ano Novo!

É o anúncio que traz aos corações um
sobressalto e os faz sentir nas moitas o canto
do rouxinol, sereno e misterioso, ouvido com
desvelo pelos caminhos fora, em direcção à
Casa Grande, de portas abertas para a Festa...

Conta a lenda que um dia, o Menino Deus
se juntou aos homens para dar Força e Coragem
na Caminhada, tão cheia de fadiga, às vezes!
Sílaba a sílaba, repetem-se as palavras mágicas:
Boa Nova. Boa Nova. Boa Nova! É o Ano Novo.
E ao lado, como bordão de apoio, o Menino
vestido de linho branco e um sorriso nos lábios...

É a Boa Nova, é o Ano Novo. É o Menino
fazendo o tear trabalhar e tecer o linho puro!...

(Manuela Reis)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


Natal de 2012


Na cidade não neva, há vento, chuva e frio
e é nos olhos das crianças carentes de tudo,
que leio o desaconchego, o desconforto
que as toca…
Pouso o Menino no Presépio
E, com carinho,
Falo-lhe em jeito de oração.

Para que os mais velhos
despertem e descubram o seu receio, o seu
temor. O sentido da Tua vinda, do Natal!
Por isso saio de casa, vou dar uma volta
na praceta e por cada menino que passa,
eu tenho um sorriso e na mão direita,
quase com timidez, estendo um pão: é o
sentimento profundo, íntimo, eterno do Natal!

(Manuela Reis)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Da praia donde
nunca consegui partir
vi um barco a acenar.
Pensei, pensei:
também nunca consegui chegar.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Como a água

Corro
como a água
na montanha
e só se sabe
que fui ferida
por um veio
de sangue

(Manuela Reis)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Em memória

Em memória
dos confins do tempo,
dos recônditos
campos
de flor azul,
bato
com força ancestral
o linho estriado
sobre a minha pedra do rio.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Relógio de capela

Nobre
de herança,
ponteando
as minhas horas,
tem uma beleza
ogival,
o meu relógio
de capela.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Lágrima

Imóvel,
no fundo
do tempo, como duma
vitrine,
uma lágrima
ficou sobre
veludo como
pérola fina.

(Manuela Reis)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

À frescura

À frescura duma fonte,
caíram bagas serenas
de uva branca e contas
arroxeadas que pousaram
no regaço que as esperava.
Aves dum azul leve vindas
de misteriosos horizontes,
desceram então num apelo
de alegria e encantamento.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pinceladas

A fatigada sombra contra o muro.
O murmurar da fonte cheia de luz
que revê auroras a seguir ao prado
e ao souto da minha infância.
Sem limites, sem fim e sem memória...

(Manuela Reis)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Pedra a pedra

Pedra a pedra
subi até
à porta da casa.
Uma pomba
levantou voo
e o mar azul
entrou com ela.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


Uma gota

Uma gota
de água
caiu
no silêncio
e breve
nele
se esbateu.

(Manuela Reis)



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Madonna

Com
o seu
Menino
em fuga
de cabeça
inclinada
na Noite
entre roupagens
só diz
do seu temor
um fio
de sangue


(Manuela Reis)

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Uma flor

No silêncio
do poço
e bem lá no fundo
lancei uma pedra
e nasceu uma flor
que ficou a boiar.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Retratos

Há retratos
antigos
que me atraem.
Olhares ternos,
coniventes, ou fixando-se
em frente,
isolados.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Programei

Programei a aurora
e o entardecer.
Entre ambos encontrei
o largo, vasto Espaço
e o impalpável Silêncio.
Serenidade. Harmonia.


(Manuela Reis)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Artista

Escriturário da vida
despe o fato e a
gravata
nas costas da cadeira
escreve toca pinta
a noite inteira

(Manuela Reis)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Tão cedo 

Tão cedo escureceu
e eu sem saber
alguém por certo
se esqueceu
de mo dizer

(Manuela Reis)

domingo, 18 de novembro de 2012


Dia


Foi no pano
de linho branco
sobre a cómoda
que primeiro nasceu
o dia
Depois no jarro
cor-de-rosa
de laivos dourados
que minha Mãe
em tempos me dera
Brilharam então
no escuro os frascos
de vidro e as jarras
e entre eles
um Cristo deitado
da Rosa Ramalho

(Manuela Reis)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Presença

A tua presença
corre
nas teclas
dum piano
violino nas cores
misteriosas
dum quadro
no canto
da Memória

 
(Manuela Reis)

sábado, 10 de novembro de 2012


Síntese

Telas
de cidades
alegres,
coloridas,
de veios
musicais.
Momentos
de magia
como
uma porta
em silêncio,
uma janela
entreaberta,
uma garça
no cimo
do salgueiro.
Em filme,
desenho,
pintura
ou fotografia.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Há rosas

Há rosas
amarelas
no jardim, mãe.
Anda ver.
Nasceram
para que
nunca mais
ninguém
te possa
esquecer.

(Manuela Reis)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

À luz da candeia

À luz da candeia,
já quase de noite,
cruzei as mãos
e as sombras
ficaram a pairar
contra as paredes,
como se fossem
asas dum morcego.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

As oliveiras da Grécia


As oliveiras da Grécia
estendem-se em grandes planuras
e cobrem as encostas.
As oliveiras da Grécia
encontrei-as eu por toda a parte,
ao longo dos caminhos,
quer em Atenas, Delfos,
Micenas ou Creta,
nas pracetas públicas
ou junto das igrejas ortodoxas.
As oliveiras, árvores sagradas
com os seus frutos perfumados,
encontrei-as sob a forma
de folhas de ouro incrustadas
em colecções de jóias.

Manuela Reis
Creta, Dezembro de 2004

quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Búzio

À ternura dum búzio,
deixei coar o som
profundo que me levou
para longe, no mar.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Espiral

É em espiral
que o meu espírito
se move
não na quadratura
das horas

(Manuela Reis)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Não morei

Depois
de eu morrer
se vierem
perguntar
onde moro
não morei

(Manuela Reis)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

É noite,
a casa dorme.
No centro,
desperto,
gotejam-me
os telhados
e é como
se me batesse
a chuva
e o vento
lá de fora.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Fecho os olhos 


Fecho os olhos
O silêncio
traz-me
o som
do cair da pedra
na água
dum poço








(Manuela Reis)

sábado, 20 de outubro de 2012


Ao luar

Passeio à beira-mar.
Leve, ligeira,
descalça na areia,
junto aos contrafortes
rochosos que procuram o
reflexo do luar.
O cheiro a maresia
envolve-me em mistério
e leva-me para longe.
Longe,muito longe.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Entre os dedos

Entre os dedos
enrugados
torço
um pedaço
de linho
e vejo-me
numa cidade antiga
no alpendre
da casa velha
doidinha

(Manuela Reis)

terça-feira, 16 de outubro de 2012


Abre as mãos

Abre as mãos
e deixa ir as coisas
Só assim
ficará intacta a Memória
Como porcelana

(Manuela Reis)

sábado, 13 de outubro de 2012


Mãe


A Tua Presença
Mãe
serenamente
adormecida
entre as flores
salvas
do matagal
é o elo
oscilante
com o Passado
que preciosamente
retemos
nesta Hora
entre gestos
banais
que
de repente
se tornam rituais
Por isso
o mais
sagrado
é o silêncio
Todo
o Silêncio
que pudermos
guardar
de tudo
o que se for
embora

(Manuela Reis)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012


Silêncio


O silêncio
sereno
dita segredos
que nunca
me ouvi

(Manuela Reis)

terça-feira, 9 de outubro de 2012


De noite

De noite
ouço
o silêncio mudo
encrespado
contra as grades
das prisões
do mundo

(Manuela Reis)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


Marulhar das águas

No marulhar das águas,
mergulho à procura do caminho
que me leve ao fundo do mar,
berço de segredos e segredos
guiados ao longo dos séculos
e que nele ficaram bem guardados.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sebe

Há uma sebe
que se revela
ao meu primeiro passo.
Perscruto o que me cerca.
É tudo Espaço.
Como assim,
se eu não avanço?!

(Manuela Reis)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Coisas

Nas coisas que vos deixo
espalhadas pela Casa,
fica a minha alma
ligada aos lugares
em que as achei.
Em longas caminhadas,
lá muito longe,
ou perto dos sítios
onde passei e me detive, num mistério.
Na mão com que as toquei
e as escolhi,uma entre
muitas e muitas, senti um apelo.
Era o coração que as nomeava
entre dez, cem ou mil, e havia
algo de íntimo e sagrado
que me deixava em sobressalto.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Poema evocado

Suave desliza a gôndola
Cisne ou figura alada
entre nós dois
intersectando brumas
nevoeiros
em direcção às margens
do quadro...
Perplexo antevejo
A assinatura
dum pintor
que ainda
há-de vir
ou se já veio
fê-lo há muito tempo
tanto tempo
que as próprias
cores se apagaram
Misteriosas passam
as luzes que ficaram...

(Manuela Reis)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

No vidro gelado

No vidro gelado das ruas da cidade
traçam arabescos de bailarina
as palavras
dum pássaro de fogo
que bate as asas
deixando centelhas de lume
e retoma a seguir o seu alto voo 

(Manuela Reis)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Disco de Phaistos
 
Há um esplendor de Mistério,
de Sagrado, no Disco de Phaistos,
como se de salmo ou hino se tratasse.
 
Há um esplendor de Mistério,
de Sagrado, no Disco de Phaistos
cuja espiral, seguindo a direção da mão
imprime com moldes e carimbos
os símbolos do mar, da terra e do ar,
como o do homem, o peixe, a flor, o machado e a ave.
 
Há um esplendor de Mistério,
de Sagrado, no Disco de Phaistos,
o texto indecifrado.
 
Manuela Reis
 
Creta - "Museu de Herákleion"
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012


Pedra rara
 
Cruzei os dedos
à transparência
da água
e entre eles encontrei uma pedra rara 

(Manuela Reis)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Poço


Quanto mais cavo
no silêncio, mais seixos
surgem na brancura.
Nomes que falam de tudo,
que nomeiam as coisas
mais variadas e ternas.




(Manuela Reis)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Os traços dos teus gestos

E os traços dos teus gestos
atravessaram os espaços,
marcando a curva livre
lançada nas montanhas
e escorrendo pelas pedras.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Palavras
        
Há torrentes
de palavras
que brotaram
dos confins
da terra
Outras brotaram
doutros mundos
e de outras eras
Outras ainda
continuam a brotar
dos meus dedos
agora.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Noite no rio 

É noite.
Passada a Igreja do Ó,
subo a calçada
mas viro-me e fico a meio,
indiferente ao gélido frio,
tomada do fascínio das luzes
que entre baforadas do nevoeiro,
sob vários ângulos sobem do rio.


(Manuela Reis)

terça-feira, 4 de setembro de 2012


O Silêncio de Delfos

Há um silêncio carregado
de forças ancestrais ampliado
pela música e profecias ditadas por Apolo

Há um silêncio vasto
ampliado pela pedra
recuperada das profundezas da terra

Há um silêncio condensado
que se despenha dos penhascos
e rola até ao vale
de oliveiras ciprestes e pinheiros

Há um silêncio palpável
no chilrear dos pássaros e no fumo
que se eleva e espalha ao longe
na chaminé duma casa da aldeia de Arahova

Há um silêncio vasto e condensado
É o Silêncio de Delfos
Centro do mundo

(Grécia)

Manuela Reis

domingo, 2 de setembro de 2012


Sanségur

Fecho os olhos.
Subo
de novo
Sanségur,
o castelo cátaro.
Estou noutros
tempos
mas esqueci
a minha história.
Os pés escorregam,
doem-me os olhos,
mas tenho de continuar.
Descobrir-te-ei,
oh meu passado,
lá em cima,
em Sanségur,
o castelo cátaro.


(Manuela Reis)

terça-feira, 28 de agosto de 2012


Eu me recolho

Eu me recolho no silêncio da casa 
e abro a tampa da arca,devagar.
Uma pilha de roupa branca, na frescura
de alfazema e alecrim queimado,
a imagem dumas mãos longínquas e secas 
fazendo girar a roca. 
O som da porta que não vejo mas gira nos gonzos
e uma voz que me chama vinda não sei donde.


(Manuela Reis)

sábado, 25 de agosto de 2012


Num quarto de aldeia

Num quarto de aldeia
uma cama de ferro
uma colcha de linho
um candeeiro de petróleo
um baú de couro
um lavatório de lata pintado
uma toalha pendurada
cheirando a rosmaninho.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Astúrias
 
Pinto de longe as Astúrias
sob o silêncio da neve
que cai sobre os panos de história,
os caminhos e os picos das montanhas.
A Catedral e as mágicas ruas de Oviedo...

(Manuela Reis)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cal

É à luz branca da cal
que agora pinto a casa.
Ela desperta o meu olhar
dum modo vivo e feliz.
Sereno e liberto.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Os últimos poemas

Marquei com o lacre e o sinete
o envelope em que guardei
o mistério dos últimos poemas
feitos entre a aurora e o entardecer.
Ficaram aqueles em que
o dia despontou ligeiro e
o anoitecer se esvaiu calmo,
tranquilo, em remotas memórias...
(Manuela Reis)

domingo, 12 de agosto de 2012

Luz das searas

Iluminada pela luz
das searas,
a tua voz entra no meu peito.
Alqueire de trigo
sorridente e terno,
guardado na loja
larga e fresca,
que acorda
da tarde ensolarada
e quente, com uma
alegria suave.
....................................

Um amplo olhar
que se abre nos campos
ou na cidade,
deixando livre
um espaço sem fronteiras...

(Manuela Reis)

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


Luar

Na noite escura
espreita o luar
sobre o casario.
Revela as ruas
e as vielas
como se fosse
um véu
a desenrolar-se
sobre a vila.
Magia.Encantamento.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012


Sobre a mesa

Sobre a mesa,
uma maçã vermelha
a brilhar
num prato azul,
de beiras amarelas.
Perfume subtil
e fresco, cor que
dá vida e alegria.
......................
Perfume e cor. Alegria.

(Manuela Reis)

domingo, 22 de julho de 2012

Neve e fogo


E pelo meu peito
caiu a primeira neve.
A primeira.
Cor de cal e como
fogo de fogueira
que abrasou, misteriosamente,
os meus cabelos castanhos.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 20 de julho de 2012


Sonho leve

Sono leve
das rosas
que caem devagar
sobre o muro
de pedra,
de granito cinzento,
sorrindo
em chispas prateadas.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 18 de julho de 2012


Quem passa

Quem passa perto,
pode chamar-me
aragem da manhã
ou sopro ameno
do entardecer.
...........................
Chuva caindo nos
ombros ou flocos
de neve tecendo
um manto sobre eles.
..............................
Entardecer adamascado
sob a forma dum sol
poente bem desenhado.

(Manuela Reis)


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Pássaro azul

Na alameda que se alonga
até ao palacete,
lá longe, muito longe,
senti um estranho sobressalto.
Foi então que um pássaro
azul levantou voo
e veio pousar no meu ombro.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Três coisas

Há três coisas que me dão vida:
o cheiro da terra molhada
e o do poroso do cântaro
quando está cheio de água.
Finalmente, um ramo
de junquilhos, na altura
de crescerem junto ao muro.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pássaro
 
O pássaro canta
como se fosse
a última vez.
Mas de repente,
a pausa,o silêncio,
são como uma porta
que se fecha devagarinho...
 
(Manuela Reis)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Palavras, sílabas, vogais

Quando deixo fluir
as palavras, as sílabas
e as vogais pelo espaço
fora, das várias cores
é o branco que evoco
numa soma delas.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Espectador

Deixa ferver o lume,
soprar o vento,
cair a chuva
e pousar os flocos
de neve sobre os ombros
que se vergam.
Deixa que abram
um caminho feito gelo,
até chegar ao lago
perplexo e solitário.
..............................
Tu és apenas um espectador,
mas muito, muito antigo.
Um espectador de há séculos.
Por isso não precisas de dizer nada.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ergue-te

Ergue-te,coração,
dentro de mim.
Recebe a luz
das madrugadas,
o calor da tarde
e o olhar adamascado
do misterioso entardecer.
Quando chega a noite,
ao fim do dia,
encosta a cabeça
ao travesseiro Branco
de puro e fresco linho.

Manuela Reis


(Ao meu neto Miguel, a 18 de Agosto de 2011)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ponte sobre o rio,
paliçada a balouçar
sobre as águas
transparentes
e leves como o vidro,
ditando segredos
para o barco escondido
na margem cheia
de frescura e cor.
Silêncio, silêncio.
Em tua honra o
faço rasgar cheio
de indizíveis cambiantes,
de par em par...


(Manuela Reis)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Quem me acorda na madrugada?
Um pássaro, o mar ao longe?
O crepitar da chaleira ao lume?
Possivelmente, o bater do meu coração
sempre, sempre à tua espera.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Serra

De lanço
em lanço,
até à calçada,
encontro
as folhas da hera,
e do outro lado
da serra,
as pegadas
fundas
marcadas na neve.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Herança

A minha alma é habitada
pelas águas,
através da caleira
que derrama o cheiro
a alecrim e rosmaninho.
É aos meus netos
que deixo
a beleza da pedra
e a imagem da
madeira envelhecida
do vetusto espigueiro,
não longe dali e com
vestígios de vermelho
velho... 

(Manuela Reis)

terça-feira, 26 de junho de 2012

A tua Casa


Aproximas-te
da casa
caiada
e com a luz da cal
inventas a porta
que te
falta
Há um silêncio
repentino
quando entras
Vais direita
à janela
que sabes de cor

Todos os recantos
que conheces
ficam então iluminados.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ansiedade 

Minha alma
sussurra ao longe
como o som
da areia
escoando-se
pela peneira
do sol poente...


(Manuela Reis)

quinta-feira, 21 de junho de 2012


Silêncio

O silêncio é o prelúdio da neve.

O silêncio é o sinal das estações e o princípio delas.

O silêncio marca o tempo das primeiras glicínias.

O silêncio é o momento de suspense que antecede a 7ª Sinfonia de Beethoven.

(Manuela Reis)

terça-feira, 19 de junho de 2012

Névoa

De que lado vem a névoa
que embacia o meu olhar,
e faz calar o canto de alegria
da criança que vem do mar?
.......................................
Menino de cabelo encaracolado,
olha ao longe comigo.
E eleva-o atravessando
a transparência das coisas que nos cerca,
deixando-nos ver e voar.

Névoa. Paisagem. Convite. Canto de alegria.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Abri a porta

Abri a porta
e o que então aconteceu
foi noutra época.
Palas frinchas das janelas
entraram as silvas
da casa abandonada
e nela apareceu um jardim
de frescas rosas amarelas.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Linha do poema

Ave anilada
lança no espaço branco
a linha do poema
e leva-o nas tuas asas
até ao fim do mundo.
As sílabas soltam-se
e vão juntar-se a elas
as vogais azuis e nacaradas.

(Manuela Reis)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Caminho

Sílaba a sílaba,
forma-se a palavra
que indica
o caminho
daqui
até ao rio.
Sorriso, erva.
Pedra e luz.
E por fim,
paisagem d’água

(Manuela Reis)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Sofrimento

Campos trilhados pelas chaves torcidas.
Campos cruzados pelos ferros enferrujados
e pelas peças antigas da charrua.
Campos marcados pelas pegadas
que deixam ficar laivos de sangue.

Devastação de terras e de temores.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mágoa

Mágoa,
como madeixa
sobre o cabelo
preto e sedoso.
Talvez o rasto
da  partitura
dum caminho
marcado por
uma lágrima,
traçada por
linha profunda.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 25 de maio de 2012


Suave

Suave  é a linha
da ave
que sobe no espaço
e se deixa levar
para além da serra.
Outros tempos,
outras eras.
Olho e vem-me toda a paisagem

(Manuela Reis)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Silêncio
 
Rompe o silêncio,
ao longo da casa,
no trilho da noite
que abre caminhos
Tão leve e indizível,
é como se quisesse
insinuar-se breve,
breve, muito brevemente.

Silêncio. Noite. Leve. Invisível.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Perfume

Amanhece dentro de ti
a frescura, a transparência
do odor aveludado
dos frutos do pessegueiro.
Deixa-te ir de olhos fechados
como numa barca
que abre caminho
ao teu mundo perfumado.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Este poema

Este poema esperou por ti
a vida inteira.
Conjunto de gestos de harmonia,
palavras surgindo uma a uma,
como pérolas nacaradas,
caindo livres no espaço.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tão breve e antiga

E sozinha a neve,
por todos os caminhos.
Tão breve e antiga,
fazendo vergar árvores
e arbustos, toucando
de branco as urzes do monte,
os telhados das casas
e o campanário.
(Manuela Reis)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Dança

Dança das saudades
dentro de mim.
Lágrimas espalhadas
no fundo da alma
a joeirar na pedra da eira.

(Manuela Reis)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Melodia

De mãos fechadas, retenho
o silêncio de outras eras.
Abro-as e ele espalha-se
por toda a parte.
É uma melodia suave, tranquila
e sem fronteiras…

(Manuela Reis)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Joeirar

Joeirar de milho
sobre a pedra
do lajedo da eira.
Esvoaçar de pássaros
esgueirando-se
entre as tabuinhas
misteriosas do vetusto
e imponente espigueiro.
Flores brancas e
perfumadas de
pétalas soltas
mesmo prestes a voar.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Branco e azul


Dai-me as palavras brancas
como o linho.
Dai-me o caminho da teia
até chegar ao tear.
E por fim,
uma toalha branca de Páscoa
bordada a flores azuis.
Branco e azul,
ternura do meu linho.
 
(Manuela Reis)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Há milhares de anos


Chove há milhares de anos
em todos os caminhos
e eu fujo,
em segredo,
para o fundo das casas
onde o lume está aceso.
Aconchego os velhos e as crianças
e cubro-os com uma manta
feita de lã merina,
de quadrados castanhos.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Olhar

Olhar longínquo e transparente
como o apontar do pôr do sol
que às vezes surge como agonia.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Caracóis

Caracóis louros, voando
sobre o rosto de ébano.
Olhar vivo e meigo
caindo sobre o mundo.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Dia

Dia acabado de nascer
pela luz das frinchas
das portadas e pela brancura
da toalha de linho,
sobre a cómoda.
Esguio, ergue-se um solitário
com uma rosa vermelha
e, ao centro, um jarro
e uma bacia de porcelana
antiga de laivos dourados.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Traçados

Fio de linho
ou de cabelo.
Linha a marcar
o caminho
do rio profundo.
Rego traçado
no campo de trigo,
lá longe no fundo.


(Manuela Reis)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Poema encontrado

Um poema encontrado
entre as páginas
dum livro antigo
conduz-nos pelas veredas,
e vem revelar o segredo
dos meandros percorridos.
As épocas passadas.

(Manuela Reis)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Melancolia

Melancolia que cais
como aroma
de perfume inesperado
e de estranha bruma,
liberta-me da tristeza
que me tens atada
e dá-me outra dimensão.
Uma alegria ilimitada.


(Manuela Reis)



terça-feira, 3 de abril de 2012

Rosa amarela


Do mais profundo
de ti mesmo,
nasceu
uma rosa amarela.
Rosa orvalhada
de pétalas
a tremer,
largando um perfume
ao mesmo tempo
vago e intenso.

Olha-la, e embora num
gesto simples e transparente,
fazes dela uma oferenda.

É como se fosse um ritual.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Passou por ti

Hoje passou por ti
uma lufada agreste
só feita de mágoa.

Mas esqueceste
uma outra que era
apenas de frescura,
leveza  e ternura.
Estava mesmo a teu lado.

Mesmo. Mesmo a teu lado.

(Manuela Reis)

terça-feira, 27 de março de 2012

As crianças

As crianças não estão presas à terra.
De maneira nenhuma.
Trepam com os olhos
pelo mundo acima.
Exprimem o mesmo espanto
das ovelhinhas
no presépio,
que lhes vêm comer
migalhas à mão, saltam com os gatos,
beijam os cães.
Os adultos querem
ensinar-lhes coisas
mas se fossem eles
a querer aprender
é atrás delas
que teriam de correr.


(Manuela Reis)

quinta-feira, 22 de março de 2012


Mãos abertas a tudo,
olhar decidido e atento
a todos os que a cercam.
Raízes na terra amada
mas gestos espalhados
pela cidade fora.
Por fim, uma grinalda de rosas...


(Manuela Reis)

quarta-feira, 21 de março de 2012


O Poema
é o outro
corpo
de todas
as perdas.


Manuela Reis)
Partiste

Partiste logo
no início do poema
e eu fiquei só,
jogando à toa
com as palavras
que com tanto carinho
preparei para ti.
Não ficou nada.
Apenas algo de vago,
dentro de mim.

(Manuela Reis)

segunda-feira, 19 de março de 2012

A tua alma cresceu
ao longo do tempo.
O teu olhar
que parecia tão longínquo,
aproximou-se
de cada um e afagou cada
rosto isolado,triste,
sem ternura.
Puseste tudo
nas tuas mãos
e aprendeste a dar
o que tinhas e não tinhas.
A toda a gente.
Puseste tudo. Mesmo tudo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O brinquedo

O brinquedo
da minha infância
veio do mar.
Chegou à praia
e saltou a duna
e a parede de pedra.
Depois mão misteriosa
deu-lhe de novo corda.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Uma herança

É uma herança
o carvalho a norte
e o caramanchão
onde tomávamos o chá.
.................................
E pequenas coisas
como a aldraba
da porta grande.
......................................
Foi então que me veio à memória
a ausência do pássaro azul
que tanto queria num poema meu,
mas nunca, nunca apareceu.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Uma palavra

Dá-me uma palavra,
uma palavra apenas
com que eu chame
tudo o que me rodeia.
Terras,árvores,mar.
...........................
E nas grandes cidades,
até as construções
e os arames farpados.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Já é noite

Já é noite, mesmo noite.
E ao fechar os olhos,
sonhos insondáveis
tomam conta de mim
e lançam-me
por meandros desconhecidos.
Ao despertar,
são rosas frescas alilasadas
que me esperam,
em cima da cómoda.


Manuela Reis)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Dos meus dedos

Dos meus dedos
correm rios de água.
São verdes, amarelos,
e avermelhados,
mas os de cor de açafrão
é que me ensinaram
a dar alegria
à  minha canção.


(Manuela Reis)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Harmonia

O teu olhar atravessou
o silêncio do quarto
e foi sentar-se no banco
de pedra, junto à janela.
A luz que tocava na vidraça
aquecia-te as mãos e fazia-te
sentir calor no teu ombro.

Tudo era harmonia, naquela casa.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O poema

O poema começa
pela cancela do quintal
onde as abelhas fazem o mel.
Depois,seguem-se as árvores
cujo nome não sei.
Quando o pássaro voa,
a seguir vem o silêncio
que povoa o ribeiro.


(Manuela Reis)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ladeira

Subimos a ladeira
de mãos dadas,
menino de cabelos ruivos.
Pedra, nuvem, chama.
Quando chegámos lá acima,
compreendi que foste tu
a ensinar-me o caminho.
.......................

Caminho. Menino.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O meu poema nasceu
nas terras altas.
Desceu
pelas escarpas
e quando chegou cá abaixo,
ao vale,
encontrou um mar de rosas.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Fecho os meus olhos
e tateio o teu rosto
para descobrir se o sei de cor
..........................................

Imagino o ponto de partida
para encontrar o da chegada.
.........................................
É como se procurasse
um pergaminho sagrado,
antigo e amarelado.


(Manuela Reis)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quem sabe

Talvez ainda não tivesses
vindo e talvez nem eu existisse.
Não admira.
Olhando o horizonte,
só se via uma casa
com as portas esburacadas
e as janelas sem vidros.


(Manuela Reis)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Se

Se eu pudesse
transformar em grinalda
as rosas amarelas,
pô-las ia nos teus cabelos fulvos,
porque para ti são deslavadas
as brancas e as rosadas.
Seria um esplendor
único, o reflexo
duma luz incontornável.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Podes chamar-me

Podes chamar-me pombo,nuvem
ou candeia.
Podes chamar-me estrela da manhã
ou mesmo, quem sabe,
charrua da terra.
Sol de inverno ou raiz de primavera.

(Manuela Reis)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

São coisas assim 

São coisas assim,
leves e frescas,
desejando a alvorada
com que acordo.
Às vezes venho dum sonho estranho
que me faz despertar
e saltar ligeiro
sobre o cobertor de papa,
que outrora tingiam
de azul ou rosa forte.


(Manuela Reis)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

As Folhas

Mordidas pela chuva,
debaixo da minha janela,
as folhas das árvores
deixam-se levar
por um tremor antigo.
Nada se passsa agora,eu sei,
mas noutro lugar muito longe,
outrora.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Como uma cobra azul

Como uma cobra azul
escorre pela montanha
o corpo da neve.
............................
É noite, e é
assim que a vêem
os meus olhos.
.........................
Tão antiga
e carregando
um mistério
insondável.
.......................
Sem palavras para o dizer.

(Manuela Reis)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Chove

Chove há três,quatro ou cinco dias, não sei.
Mas no reflexo do medalhão oval
que minha Avó me deixou,
sente-se o reflexo do sol
de todas as férias
que com ela passei.


(Manuela Reis)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Caminho vidrado

No caminho vidrado
da manhã gelada,
eu senti um arrepio,
mas quis ser ave.

Ave branca ganhando altura,
para ver de longe a serra,
e, pelo caminho, a igreja e o casario.

E à minha frente, nesse mesmo caminho
vidrado, eu vi, tenho a certeza,
um alegre passarinho saltitando.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Hoje

O que aconteceu
foi noutras eras.
Ouvi cantar um pássaro
e pela janela aberta,
entrou o mar azul
que me levou
para outra costa.

(Manuela Reis)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ave azul

Ave azul,
lança no espaço
a linha do poema
e leva-o nas tuas asas
até ao fim do mundo.

(Manuela Reis)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Água da caleira

Toca com os dedos
na água que corre
na pedra da caleira
que cerca o prado.
Quando chove,
é uma torrente.
Agora, uma aragem
feita de silêncios
e palavras suaves.
É primavera.

(Manuela Reis)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Talvez

Era um poema
Na palma da mão
duma criança.
Ou talvez uma pedra branca
nos olhos dela,
que brilhavam de espanto.


(Manuela Reis)


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012


Libélula

Há uma libélula
que atravessa
todos os meus sonhos,
e ao acordar,
espera por mim
na beira da janela.
Assim começa a madrugada.


(Manuela Reis)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Resenha


A sombra contra o muro.
O sorriso da fonte
que deixa cair a água
azul e luminosa,
revendo auroras
a seguir ao prado
sem fim e sem memória.


(Manuela Reis)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Escrevo

Bebo para voltar às fontes.
Por isso escrevo.
Mergulho as palavras
como se fosse
eu a mergulhar,
banhando-me nas águas.

(Manuela Reis)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Curta-Metragem

Um prisioneiro
nada
na longínqua
floresta,
na memória,
e eu aflita
por ele,
perseguido
das margens
a toda a hora.  (MR)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Casa

Com a base da casa
construíste os alicerces.
De lanço em lanço
adivinhei-te as escadas
e com elas o som dos passos.
Cá fora, pelas paredes,
trepavam pés de hera,
leve, fresca e verdejante.


(Manuela Reis)

domingo, 8 de janeiro de 2012

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Transparência
de tempos e de espaço
a Voz inicial
aqui e agora


(Manuela Reis)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Não gosto
de auto-estradas.
Tiram-me
os caminhos.
Cortam-me
as casas
na retina
e aquela
árvore
de outrora,
além,
ao virar da esquina. 
(MR)